sábado, 11 de maio de 2013

O DNA da maldade - Paulo Cesar Naoum


 DNA DA MALDADE 
Paulo Cesar Naoum 
Academia de Ciência e Tecnologia de São José do Rio Preto - SP 
www.ciencianews.com.br
Maio de 2009 

Uma pergunta que se faz com certa constância, é se a maldade humana provém da própria pessoa ou é adquirida do ambiente. É uma discussão milenar, conforme relatos obtidos da filosofia oriental. 
Mencio Mong Tse (371 a.C. – 289 a.C), pensador chinês e seguidor de Confúcio, sustentava que “os seres humanos são naturalmente bons, agem dentro da moralidade, são dotados de compaixão e da capacidade de distinguir o bem do mal e, por isso, o mal é resultado de influências externas”. Em contraposição a esse conceito, o pensador e político chinês Han Tse (280 a.C. – 233 a.C) defendia que “os seres humanos são naturalmente maus e precisam da educação e pressão política (no sentido de civilidade) para se tornarem bons”. 

Essa discussão é tão atual que frequentemente há repercussões na imprensa, quando ocorre algum tipo de violência cruel. Foi o que aconteceu entre os anos de 2005 e 2007, período em que o Brasil foi abalado por assassinatos perversos, cometidos por adolescentes. 

Esses delitos geraram intensos debates em que elegeram o tema “Diminuição da idade penal no Brasil” como se fosse a resolução mágica de um problema de alta complexidade. Entre as centenas de artigos publicados nesse período, destaquei um para esse capítulo e que foi escrito por uma delegada de policia da cidade de São Paulo. Nesse artigo, a delegada desaprovava a diminuição da idade penal por acreditar que a origem do problema da violência com crueldade tinha outras causas. Eis o trecho do artigo que nos interessa nesse momento: “As crianças que nascem no Brasil, não têm o gene da maldade, assim como aquelas que nascem na Suíça não têm o gene da bondade! Só que as crianças daquele país estrangeiro vêm de uma estrutura que lhes dá oportunidades. No Brasil, por sua vez, somam-se às deficiências de formação intelectual e cultural das crianças, o espantoso número de famílias desintegradas, gestações precoces na adolescência, abuso sexual, falta de orientação, etc. Será que é justo recair em cima da criança e do adolescente que, como folhas de papel em branco, são pintadas pelas cores da comunidade em que vivem?” 

Realmente esse tema é muito intrincado para ser abordado apenas em um capítulo. Mas instigante como é, não poderia deixar de considerá-lo. 
Há muitos estudos feitos e outros tantos em andamento com objetivos contra e a favor das influências genéticas no comportamento humano, relacionado com maldade. A capacidade de lidar com a pressão e a propensão a buscar emoções foram relacionadas a um gene do cromossomo X cujo DNA está envolvido na produção da enzima monoamino-oxidase (MAO). 

Essa enzima tem um papel fundamental no controle das nossas emoções por regular a quantidade de uma substância conhecida por serotonina. A serotonina é um elemento químico envolvido na comunicação entre as células do cérebro, os neurônios. Essa comunicação é fundamental para a percepção e avaliação do meio que rodeia o ser humano e, assim, gerar respostas aos estímulos ambientais. 

Quando você fica com o “cabelo em pé” por causa de um susto ou de uma “saia-justa”, é porque seu organismo liberou grandes quantidades de serotonina naquele rápido momento – momento suficiente para ocorrer o estreitamento dos vasos sanguíneos (vasoconstrição), inclusive na região da cabeça, e aumentar transmissão nervosa entre os neurônios. 

Como se sabe, quando um homem tem alteração num gene que está no seu cromossomo X, as implicações são enormes, pois ele não tem o outro cromossomo X para formar o par; ele tem o cromossomo Y fazendo par com o X (XY). Por essa razão, qualquer alteração no seu cromossomo X o torna homozigoto. 

Diferentemente do homem, a mulher tem dois cromossomos X (XX), portanto a lesão no gene de um dos cromossomos X a torna heterozigota, sem que tenha as consequências patológicas da lesão, pois o outro cromossomo X com o gene normal compensa a alteração do seu par correspondente. Provavelmente essa seja uma das razões pelas quais ¾ dos presídios sejam para os homens e apenas ¼ para as mulheres. 

Voltando ao assunto do DNA do gene MAO e do cromossomo X, quando esse DNA está “doente”, devido a uma mutação, a enzima monoamino-oxidase se torna menos ativa para limpar o excesso de serotonina que estimula as sinapses dos neurônios. Dessa forma o nível de serotonina vai às alturas e induz o indivíduo a buscar sensações fortes, alguns partindo para a agressividade extrema. 

Algo nesse sentido foi demonstrado por duas equipes de psicólogos, uma do King’s College de Londres e outra da Universidade de Winsconsin nos Estados Unidos. Esses dois grupos de pesquisadores se dedicaram a acompanhar o comportamento físico e mental de cerca de 500 homens desde o nascimento. 

O estudo iniciado em 1972 avaliou especificamente a tendência dos indivíduos à violência. Para diminuir o número de variáveis relacionado ao amplo tema de violência, consideraram apenas aqueles que tinham sintomas que caracterizavam os distúrbios anti-sociais e, também, os indiciamentos para crimes violentos. Para a análise dos resultados, foram constituídos apenas dois grupos: um grupo em que os homens tinham registros de severos maus tratos na infância, e o outro era formado por homens que não tiveram maus tratos considerados severos na infância. Avaliou-se o nível da enzima monoamino-oxidase 
(MAO) nos dois grupos e os resultados mostraram que os homens maltratados na infância tinham probabilidade dez vezes maior para cometer crimes violentos, desde que, além de terem sofrido os maus tratos, tivessem, também, a forma menos ativa da enzima MAO. Esse é um exemplo de uma anormalidade genética com forte indução do meio em que a pessoa vive. 
Situações que envolvem o DNA da maldade, podem ser expandidas para explicar o comportamento humano dos senhores das guerras em todos os continentes do nosso planeta, desde o início da nossa civilização. Teriam sido somente as expansões territoriais, ou os roubos de riquezas, ou mesmo as limpezas étnica, as razões para matar, sodomizar e estuprar? Dê poder a um homem que tenha sofrido maus tratos e que seja portador de DNA incapaz para produzir a enzima monoamino-oxidase para ver e sentir o que poderá acontecer! 


domingo, 5 de maio de 2013

Crianças, adolescentes e violência

Ultimamente temos visto e ouvido notícias envolvendo adolescentes e até crianças em cenas de latrocínio ou algum tipo de violência em que estão portando armas ou drogas. É muito difícil não se sensibilizar e buscar explicações para essa situação.
Na mídia ouvimos propostas para diminuição de maioria penal, outras semelhantes ou outras ainda contra essas medidas. Nas rodas de conversa esse é um tema que divide opiniões e "esquenta" as discussões, mas de modo geral observo que as propostas esperam do "outro" as soluções.
Pergunto sempre:
- E nós o que podemos fazer? Nós pais, professores, educadores, tios, avós, vizinhos, cidadãos, ou melhor adultos responsáveis pela realidade do mundo?
É um tema que demanda muita discussão e reflexão, mas certamente é hora de nos mobilizarmos para construir uma saída para tanto sofrimento em todos os envolvidos direta ou indiretamente.
No próximo dia 23 de maio faremos um "dedinho de prosa" sobre esse tema para começarmos uma discussão sobre possíveis causas e principalmente soluções para tanta violência.
Não deixe de vir para participar e contribuir com sua opinião para a construção de uma resposta que toda a sociedade espera.
" Os fios compõem o tapete, mas este só é tapete por causa dos fios". (Edgar Morin)